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Silêncio Virtual e Silêncio Fecundo

De Meu Wiki

Edição feita às 18h25min de 9 de fevereiro de 2018 por Ramadan (disc | contribs)
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Ementa

O Silêncio Virtual em uma comunidade virtual de aprendizagem colaborativa e cooperativa, segundo reflexão de Maria Ilse GONÇALVES (2003), é um fator a ser considerado e analisado com bastante cuidado. Geralmente, os grupos podem propiciar tanto a verbalização quanto o silêncio, o que não é uma característica dos grupos nos cursos a distância, uma vez que existe o silêncio, também, nos cursos presenciais. Entretanto, nos cursos virtuais, o silêncio ganha força e fica mais evidente, pois a presença ou a ausência física de alguém é notada em uma classe presencial, haja ou não participação verbal.
É bem mais fácil ser um aluno silencioso no mundo presencial, já que na “presencialidade” há outras formas de comunicação não verbal que o aluno pode sinalizar, como, por exemplo, a linguagem corporal – o olho no olho, um gesto, um sorriso, etc. Nos cursos presenciais, o grupo sabe que o colega silencioso está presente, mesmo mantendo-se em silêncio ao longo da aula. Muitas vezes, esse aluno está fisicamente presente, mas totalmente alheio àquele momento e envolto em suas dificuldades emocionais.
Em grupos eletrônicos, os participantes mais quietos simplesmente ou silenciosos, perante o grupo, não estão presentes. Tais participantes permanecem em um lugar chamado pelo grupo de “turma do fundão”, “turma dos leitores”, “turma dos observadores”, “turma do silêncio”, ou seja, os participantes dessas turmas estão envoltos no silêncio virtual.
No entanto, o silêncio pode ainda se manifestar em situações inusitadas, que merecem atenção, e ele pode ser significativo. Por exemplo, em determinado contexto, o aluno pode não concordar com algo e preferir manter-se silencioso por uma série de motivos, tais como: fazer pausa para reflexão; refletir uma forma de agressão; sentir que o outro não merece resposta; não atribuir importância ao debate, etc.
Por outro lado, o silêncio virtual geralmente incomoda os chamados “falantes virtuais”; há uma exigência dos participantes ativos diante daqueles que estão no silêncio virtual. É fundamental que se tenha mais receptividade nos silêncios virtuais.
Ignorar o silêncio diante do que não está sendo comunicado pode ser uma postura sábia e produtiva, diante do silêncio. Por outro lado, chamar o aluno para o debate, na tentativa de quebrar o silêncio, pode ser reflexo da ansiedade do formador, uma vez que refletir, imaginar, criar, inventar, integrar novas idéias são atividades intelectuais que necessitam, antes de tudo, de silêncio, no qual o pensamento é a atividade principal.
Ainda segundo Gonçalves (2003), muitas vezes, no ambiente virtual, o participante precisa de uma pausa reflexiva para elaborar mentalmente o que está sendo desenvolvido. Esse silêncio virtual pode indicar que o aprendiz terá que refletir sobre o que fez e depurar as ideias, objetivando chegar às informações necessárias e incorporando-as à descrição da resolução do problema, e repetir o ciclo da descrição-execução-reflexão-depuração-descrição. Esses são os Silêncios Fecundos (ou silêncios “construtivos”).
Os silêncios fecundos jamais podem ser interrompidos por intervenção ansiosa do formador, pois refletem exatamente o participante encontrando-se na depuração das ideias, em que o aprendiz, ao invés de assimilar o conteúdo passivamente, reconstrói o existente, dando a ele um novo significado, o que implica também um novo conhecimento. O formador não deve, diante do silêncio, intervir com turbulência e cobrança, uma vez que se trata de momentos de profunda e significativa delicadeza humana.
Logo, a presença silenciosa do formador e seu acolhimento, perante o silêncio do aprendiz, tornam-se mais importantes do que qualquer intervenção, tanto verbal quanto escrita.
O saber conviver e respeitar o silêncio resulta em um aprendizado difícil, uma vez o impulso inicial é intervir com frequência, atendendo à necessidade de aliviar suas próprias tensões. A sabedoria do silêncio e o intervir no momento oportuno podem ser produtivos para o processo do desenvolvimento grupal.


Fontes

GONÇALVES, M. I. R. Reflexões sobre silêncio virtual no contexto do grupo de discussão na aprendizagem via rede. Revista Pateo: Multidisciplinaridade, [S. l.], ano 7, n. 26, maio/jul. 2003.

TAVARES-SILVA, T. A educação baseada no paradigma da produção em massa, de servidores do Estado de São Paulo, via cursos on-line: a comunidade virtual de aprendizagem como recurso para valorizar e resgatar a capacidade de pensar, interagir e construir do aprendiz. 2006. 295 f. Tese (Doutorado em Educação - Currículo) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2006.

VALENTE, J.A. Formação de professores: diferentes abordagens pedagógicas. In: VALENTE, J. A. (Org.). O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: Unicamp/Nied, 1999.